André Borges/Agência Brasília
Preocupação com o destino do lixo é cada vez maior no Brasil
O aumento da preocupação da sociedade com a geração e a destinação adequada de resíduos sólidos no Brasil nos últimos anos tem gerado uma busca, tanto pelas diferentes esferas do poder público quanto pela sociedade civil e iniciativa privada, de soluções que diminuam a quantidade de resíduos produzido no país. E, ao mesmo tempo, que também deem a destinação ambientalmente correta para diferentes tipos de materiais, priorizando as etapas de não geração, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos e disposição final dos rejeitos.
Essa é a principal diretriz dada nas Políticas Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos, estabelecida pelas legislações das duas esferas que regulam o tema desde 2009. Pensando na necessidade cada vez maior de fomentar atitudes que contribuam para a redução e destinação correta dos resíduos produzidos pela população, o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) preparou, logo após o Dia Mundial do Meio Ambiente, cinco dicas para ajudar as pessoas a fazer sua parte dentro da rotina em casa.
São ações que podem contribuir para diminuir a quantidade de resíduos destinados de forma incorreta aos aterros sanitários, já que nem todos os resíduos gerados dentro de uma residência devem ir para a coleta domiciliar comum, e que também têm potencial para criar uma rotina com menos resíduos gerados no dia a dia das pessoas. Dessa forma, é possível contribuir diretamente para que o meio ambiente se torne mais sustentável. Afinal, no Brasil são coletadas, diariamente, cerca de 166 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos, constituídos por plásticos, papéis, vidros, metais, rejeitos e matéria orgânica, o que significa uma média diária de 0,95 quilos por habitante, segundo o Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (Snis) de 2019.
Vejam as dicas:
1) Aproveite melhor os alimentos adquiridos
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Do total de resíduos coletados por dia no Brasil, a maior parte é de resíduos orgânicos, gerados no pré ou no pós-consumo de alimentos. Muita gente não sabe, mas as partes que normalmente são jogadas fora no preparo de alimentos podem até ter valor nutricional superior aos segmentos “comestíveis”. Por exemplo, a parte das folhas da cenoura tem 13 vezes mais cálcio e 2,5 vezes mais vitamina C do que a raiz. O teor das fibras da semente do melão é 50 vezes maior do que a parte carnosa e é na casca da abóbora moranga, e não na polpa, que as proteínas se concentram. Na couve-flor, mesmo que as folhas verdes sejam mais duras, elas são mais nutritivas e possuem mais ferro que a couve manteiga.
Segundo a diretora de Resíduos Sólidos Urbanos e Drenagem de Águas Pluviais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Luisa Ferolla Spyer Prates, às vezes se perde a oportunidade de produzir pratos deliciosos e saudáveis devido à falta de informação sobre os alimentos, causando acúmulo de resíduos orgânicos e desperdício de nutrientes que poderiam ser consumidos por muitos brasileiros. Entre os exemplos de partes de alimentos que normalmente são jogados fora estão as folhas, cascas, talos e sementes. No caso das folhas, é muito comum jogar essa parte fora da cenoura, beterraba, batata doce, nabo, couve-flor, abóbora, mostarda, hortelã e rabanete. “É importante que todos se conscientizem e conheçam as possibilidades de aproveitamento integral dos alimentos, o que não só colabora para evitar o desperdício e para preservar o meio ambiente por reduzir a quantidade de resíduos gerados, mas também por ser uma forma econômica de manter a alimentação ainda mais farta e saudável”, pontua Luisa.
No caso da casca, normalmente jogamos fora essa parte da batata inglesa, banana, tangerina, laranja, mamão, pepino, maçã, abacaxi, berinjela, beterraba, melão, maracujá, goiaba, manga e abóbora. É comum também retirarmos o talo de alimentos como couve-?or, brócolis, salsa, agrião e beterraba; as sementes de abóbora, melão, jaca e mamão, além de outras partes de outros alimentos, como entrecascas de melancia e maracujá, pés e pescoço de galinha, tutano de boi e nata.
Na internet, existe uma gama variada de opções de receitas que podem ser feitas usando todas essas partes, que muitas vezes são destinadas ao lixo. Para mais informações ou até mesmo exemplos de receitas para aproveitamento integral dos alimentos, o Sisema possui uma cartilha completa sobre o assunto, elaborada pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). Além de conferir detalhes sobre a importância de aproveitar todas as partes dos alimentos, também é possível encontrar receitas de bolo de casca de banana e salpicão de frutas secas com casca de melancia. Basta clicar no link abaixo.
Clique aqui para conferir a cartilha sobre aproveitamento integral de alimentos
2) Faça compostagem em casa
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A compostagem doméstica é uma forma de minimizar a geração de resíduos nos domicílios e de reutilizar a parcela orgânica desses resíduos. Se não foi possível aproveitar o alimento 100%, as partes “inservíveis” não precisam ir para o lixo. Elas podem passar por um processo de compostagem para garantir que aquele resíduo terá serventia em um provável reuso. O composto gerado a partir desse processo é um adubo de excelente qualidade para plantas, por exemplo. A compostagem doméstica nada mais é do que a transformação dos resíduos orgânicos, que podem ser as sobras de alimentos como frutas, legumes e demais, em um composto.
Praticar a compostagem é uma ação alinhada com as diretrizes das Políticas Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos, segundo a diretora da Semad, Luisa Ferolla. Conforme dados do Ministério do Meio Ambiente, os resíduos orgânicos representam uma fração significativa em relação a outros materiais e, quando destinados de maneira adequada, podem contribuir para a melhoria da qualidade ambiental, a partir da produção de composto de qualidade, geração de gás e energia, minimizando a geração e percolação de chorume.
“A redução da geração e o tratamento dos resíduos orgânicos auxilia na ampliação da vida útil dos aterros sanitários, uma vez que esses empreendimentos passariam a receber somente os rejeitos, conforme preconiza a PNRS e, como consequência, a redução da demanda por novas e extensas áreas para implantação de novos aterros sanitários, reduzindo assim, novos passivos ambientais”, diz a diretora da Semad.
Realizar compostagem doméstica é possível tanto para aqueles que moram em casa quanto para os que residem em apartamentos. Tudo que você precisa é de um espaço suficiente para empilhar três caixas com 15 litros de volume cada, em que cada uma tem a dimensão de 43 cm x 35 cm x 43 cm. Esse é o tamanho ideal para o volume de resíduos orgânicos estimados em uma casa com três pessoas. Além das caixas você vai precisar apenas de furadeira, uma torneira, e de minhocas, caso você opte pelo tipo chamado vermicompostagem. Hoje em dia, também é possível encontrar as composteiras prontas disponíveis no mercado.
A compostagem doméstica pode ocorrer com ou sem minhocas. Para um processo de compostagem mais rápido pode-se optar pelo uso de minhocas como forma de acelerar a decomposição da matéria orgânica. Nesse caso, o composto produzido é o humus de minhoca, que ajuda a fornecer às plantas uma nutrição equilibrada e de maior resistência a doenças.
Mas também existe a opção sem as minhocas, cujo processo é quase o mesmo, porém, o desenvolvimento do adubo tende a ser mais lento. É preciso ?car atento, porque a falta de oxigenação nesse tipo de compostagem pode gerar mofo e com a ausência de material seco causar mau cheiro. O Sisema também tem uma cartilha completa sobre compostagem doméstica produzida pela Feam. Nela você encontra todos os passos para montar a composteira, como os detalhes dos furos que são necessários, além do que pode e o que não pode entrar no processo. Basta clicar no link abaixo.
Clique aqui para conhecer o passo a passo de como montar uma composteira doméstica
3) Vai jogar fora pilhas e baterias que não servem mais? Veja como fazer
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É muito comum em uma rotina domiciliar usarmos pilhas e baterias em produtos eletroeletrônicos que são importantes para nosso dia a dia. O que muita gente não tem familiaridade é que esses são tipos de resíduos que não devem ser colocados junto ao lixo comum que vai para os aterros sanitários quando não possuem mais carga ou quando não funcionam mais. Pilhas e baterias são exemplos de resíduos da chamada logística reversa, que é um dos instrumentos de execução das Políticas Nacional e Estadual e de Resíduos Sólidos.
Conforme destaca a diretora de Gestão de Resíduos da Feam, Alice Libânia Santana Dias, são objetivos da logística reversa viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos ao setor empresarial, para reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada; incentivar a substituição dos insumos por outros que não degradem o meio ambiente; incentivar a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis; e criar condições para que as atividades produtivas alcancem níveis elevados de eficiência e sustentabilidade.
Nessa lógica, o sistema de logística reversa de resíduos deve ser implementada pelos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes , e este pode ser estabelecido de três formas: por regulamento expedido pelo poder público, acordo setorial ou termo de compromisso firmado entre o setor e a União, os Estados ou municípios. Porém, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes são obrigados a implantar a logística reversa mesmo se não existir acordo setorial ou termo de compromisso assinados, com base no Decreto Federal 9177/17.
No caso das pilhas e baterias, o sistema de logística reversa foi implantado para atender a uma exigência da Resolução n° 401/2008 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que estabeleceu os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio, e os critérios e padrões para o gerenciamento ambientalmente adequado desse tipo de resíduo.
Em Minas Gerais existem 83 pontos para descarte correto de pilhas e baterias portáteis, concentrados nos maiores municípios, que estão disponíveis para consulta no link abaixo. Além dos referidos pontos de coleta de pilhas comuns de zinco-manganês, pilhas alcalinas, pilhas recarregáveis e baterias portáteis, existem outras iniciativas de logística reversa. Diversas lojas de venda de telefones celulares possuem urnas para a coleta de baterias de celular, além dos próprios celulares em desuso e acessórios.
“Cabe a nós, enquanto consumidores, entendermos nossa responsabilidade em relação aos resíduos que produzimos. No caso das pilhas e baterias portáteis, por exemplo, é fundamental que descartemos esses materiais após o consumo nos pontos de recebimento específicos para essa finalidade e não depositemos junto aos resíduos domiciliares comuns”, acrescenta Alice Libânia. Ainda segundo a diretora da Feam, os consumidores precisam ter em mente outras duas grandes responsabilidades.
“A primeira é priorizar a utilização de pilhas e baterias recarregáveis em detrimento das descartáveis, para evitar a grande geração de resíduos. Outro comportamento que faz toda diferença é que jamais devemos adquirir mercadorias de procedência duvidosa, que possam ter sido importadas de forma irregular”, destaca a diretora. Isso porque todo o sistema de logística reversa tem um elevado custo financeiro para sua implementação e operacionalização, que é arcado, no caso das pilhas e baterias portáteis, pelos fabricantes, alguns importadores e comerciantes.
Mas o que acaba acontecendo é que nesses pontos de recebimento também é descartada uma elevada quantidade de pilhas e baterias consideradas órfãs, cuja logística reversa acaba sendo custeada pelos fabricantes e importadores formais e regulares, acarretando em uma concorrência desleal.
Clique aqui e veja quais pontos recebem pilhas e baterias em Minas Gerais
4) A lâmpada queimou? Não jogue no lixo comum
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Outro exemplo de resíduo que está dentro da lista da logística reversa são as lâmpadas, que também não devem ir para o lixo comum depois de não servirem mais. Em novembro de 2014 foi assinado o acordo setorial com a União para a implantação do sistema de logística reversa de lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, que estabelecia a meta de recolhimento de 20% das lâmpadas colocadas no mercado três anos antes. Em Minas Gerais, há a previsão de pontos de coleta em 63 municípios, atendendo 70% da população mineira. A lista com os pontos de coleta pode ser acessada clicando no link abaixo.
Clique aqui para conferir onde estão os pontos de coleta de lâmpadas em Minas Gerais
5) Cobre dos prestadores de serviço sobre a destinação correta de resíduos
Se por um lado é obrigação da população providenciar a destinação adequada para resíduos da logística reversa gerados dentro dos domicílios, existem outros exemplos de resíduos que também fazem parte das diretrizes de logística reversa, mas não estão presentes dentro das casas, apesar de estarem diretamente relacionados à rotina das pessoas. É o caso das baterias automotivas e das embalagens de óleos lubrificantes, que já possuem termo de compromisso firmado em Minas Gerais para a destinação correta.
“Apesar de não mantermos conosco a bateria automotiva e de motocicletas que foi trocada, ou as embalagens vazias do óleo lubrificante, devemos reforçar junto aos prestadores de serviço que esses resíduos serão encaminhados para o sistema de logística reversa implementado, para garantir que darão a destinação final correta àqueles resíduos. É fundamental despertarmos a consciência em todos nós cidadãos, de que somos responsáveis pelos resíduos que geramos." completa a diretora da Feam.
Guilherme Paranaiba
Ascom/Sisema