As comunidades vizinhas ao Parque Estadual do Rio Doce se reuniram no último sábado (21) para comemorar o aniversário de 63 anos da unidade de conservação. Localizado nos municípios de Marliéria, Dionísio e Timóteo, o Parque, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), é a maior área contínua de Mata Atlântica de Minas Gerais.
As comemorações começaram no dia 14 de julho - dia do aniversário do Parque - e se estenderam durante toda a semana com apresentações e celebrações em diversas localidades vizinhas à unidade. Os destaques das festividades foram a 14º Romaria Ecológica de Marliéria e a 4º de Timóteo, que reuniram cerca de 1,7 mil pessoas e 300 cavaleiros. As cavalgadas partiram de diversas localidades da região, se encontraram na estrada de acesso ao Parque e seguiram juntas até a portaria da unidade de conservação, onde foi celebrada a cerimônia religiosa.
O trajeto percorrido desde Marliéria é o utilizado originalmente por Dom Helvécio Gomes de Oliveira, responsável pela criação, em 1944, do Parque Estadual do Rio Doce. O bispo chegou à região na década de 1930, época em que a febre amarela atingia a população local e, em um esforço para desmistificar a mata como causadora da doença e assistir às populações que moravam próximas ao Parque, criou a Romaria.
O gerente da unidade de conservação, Marcus Vinícius de Freitas, observa que a Romaria, desde o momento em que foi idealizada por Dom Helvécio, é uma das formas de sensibilizar a todos sobre a importância de se preservar o Parque. "O trabalho de proteção ao meio ambiente, no entanto, deve ser executado por nós diariamente para evitarmos um futuro nada atraente. Os ataques à natureza atingem a todos: pobres e ricos, políticos e produtores rurais", ressalta.
Tradição
Aos 81 anos, Maria da Costa Araújo, participou de diversas celebrações presididas por Dom Helvécio. "Era uma pessoa simples e gentil que todos adoravam", afirma. Ela lembra que, na época, a missa acontecia à beira da lagoa, em uma capela feita de palha. "Muitos iam de barco para a missa", diz. Viúva, dona Mariinha, como é conhecida, se orgulha de ser uma das anfitriãs da imagem de Nossa Senhora da Saúde no município de Dionísio.
Maria Araújo conta que duas tragédias interromperam as comemorações durante alguns anos, na década de 1960. "Uma delas foi o grande incêndio que causou a morte de diversas pessoas e a outra, o naufrágio da canoa que levava 20 pessoas para missa e matou a todos", lembra. "Passamos muito tempo sem celebrar o aniversário do Parque até que foi construída nova capela, próxima à portaria", afirma.
Joaquim Horta da Silva, o Nhô Horta, de 69 anos, é um dos encarregados da chamada dos berrantes na cerimônia. Ele conta que toca o instrumento na solenidade desde os tempos em que era celebrada por Dom Helvécio e que, há 26 anos, usa o mesmo berrante. Nhô Horta explica que no dia da Romaria se levanta às quatro horas da manhã para deixar tudo pronto para a ida ao Parque. "Cuido, inclusive, da cela que Dom Helvécio usava nas antigas romarias e que hoje é usada pelo bispo que preside a Romaria", observa. A família de Nhô Horta comparece em peso à solenidade. Esse ano, um dos oito cavalos preparados por ele foi para o neto, Allen Horta Nogueira, que desde os três anos de idade participa da Romaria. Hoje com 11 anos, o garoto comemora: "Só me lembro de faltar um ano".
Cerimônia
O bispo emérito de Itabira e Coronel Fabriciano, Dom Lellis Lara, celebra o aniversário do Parque há 14 anos. "É importante continuar o trabalho iniciado por Dom Helvécio, sensibilizando as pessoas sobre a afronta e ingratidão a Deus que é estragar o maior presente que ele nos deu: a natureza", ressalta. O bispo destaca a importância do trabalho diário para preservar a natureza e a vida. "Olhar para nossa própria vida e tudo que está próximo de nós, como nossa família, nossa cidade e essa mata que nos rodeia nos lembra a bondade de Deus que criou e sustenta a vida", completa.
Parque
O Parque Estadual do Rio Doce possui 36.970 hectares dominados pelo bioma Mata Atlântica e abriga cerca de quarenta lagoas naturais, dentre as quais destaca-se a Lagoa Dom Helvécio, com 6,7 Km2 e profundidade de até 32,5 metros. Em 1993, a unidade de conservação foi declarada Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A rica biodiversidade encontrada no Parque transformou-o um dos principais locais de pesquisa de Minas Gerais, nos estudos de diversos animais ameaçados de extinção da fauna brasileira, como a onça pintada, o macuco e o mono-carvoeiro, maior primata das Américas. O Parque é um dos mais procurados pelos turistas no Estado e, em 2006, recebeu cerca de 16 mil visitantes.
Atualmente em obras para melhorar a sua infra-estrutura para receber visitantes, o Parque Estadual do Rio Doce está com a área de camping, os alojamentos e os serviços de barco e alimentação temporariamente fechados. Mesmo assim, o Parque continua aberto à visitação no horário de 8 às 17 horas e a execução de projetos de pesquisa e educação ambiental permanece inalterada.
Mais informações sobre a visitação ao Parque Estadual do Rio Doce podem ser obtidas junto à gerência da unidade de conservação pelo telefone (31) 3822.3006.
23/07/2007
Fonte:
Ascom/Sisema