A união de esforços entre governo, sociedade civil organizada e iniciativa privada marcou as discussões do 1º Seminário Internacional de Revitalização de Rios, encerrado nesta quarta-feira (10), em Belo Horizonte. O evento, que reuniu especialistas do Brasil e do mundo entre os dias 08 e 10 de setembro, discutiu os desafios para a recuperação de rios que passam por grandes metrópoles.
"A solução dos problemas das bacias hidrográficas não se restringe às políticas de meio ambiente. O esforço do governo é justamente incorporar as variáveis ambientais nas políticas de todas as secretarias de Estado. Somente com a integração de todas as esferas de governo, do setor privado e da sociedade, conseguiremos atingir nossas metas", frisou o Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho.
Para Carvalho, o sucesso do Projeto Estruturador "Recuperação da Bacia do Rio das Velhas - Meta 2010" depende de uma mudança de mentalidade e comportamento da população. "Essa meta ambiciosa é coletiva. O desafio é a capacidade de interagir com a sociedade e mobilizá-la para que possamos atingir os objetivos", ressaltou.
Os esforços para a recuperação da Bacia do rio das Velhas, apresentados durante o seminário e o investimento de cerca de R$ 1,2 bilhão até 2010 em obras de saneamento e implantação de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), além dos trabalhos de mobilização, educação ambiental e capacitação de gestores, também foram destaque nas apresentações.
Para o representante da Sociedade do Rio Anacostia nos Estados Unidos, James Connolly, o envolvimento da sociedade na Meta 2010 tende a aumentar à medida que os resultados puderem ser percebidos. "Acredito que o caminho adotado pela Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais na revitalização do rio das Velhas e a experiência de sucesso do rio Mosquito são exemplos de um trabalho efetivo e interessante. O gorverno de Minas está investindo energia e recursos para a recuperação do rio das Velhas e acredito que, à medida que os resultados sejam atingidos, a população irá se envolver cada vez mais".
Segundo Ronaldo Matias, gerente-adjunto do Projeto Estruturador Meta 2010 e representante da Copasa, o volume de esgoto tratado na bacia do Velhas entre 2002 e 2008 aumentou cerca de 15 vezes, passando de 5,2 milhões de metros cúbicos para mais de 80 milhões. A volta do peixe ao rio também foi apresentada como indicador de melhora na qualidade da água do rio. "Acreditamos que esse esforço é possível. Apesar dos desafios, a volta do peixe e da vida ao rio é o que nos motiva e, certamente, toda a sociedade ganhará com isso", ressaltou Matias.
Ronaldo Matias também frisou a importância da oportunidade de conhecer experiências de revitalização de rios de outros grandes centros urbanos. "Esse seminário nos deu a oportunidade de aprender e perceber que estamos iniciando um processo importante, desafiador e que precisamos, a partir disso, planejar a longo prazo e definir as prioridades que teremos daqui pra frente".
Na avaliação do Presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Antônio Thomaz da Mata Machado, as discussões contribuíram muito para o trabalho já realizado em Minas Gerais. "Os debates serviram para mostrar que estamos no caminho certo, tratando esgotos, mobilizando a sociedade, monitorando as águas e trabalhando com a morfologia, em consonância com o que de melhor está sendo feito no mundo", disse.
Para o diretor do Instituto de Gestão das Águas do Estado de Munique, na Alemanha, Klaus Arzet, responsável por apresentar a experiência do rio Isar durante o evento, a realização do I Seminário Internacional sobre Revitalização de Rios também possibilitou uma preciosa troca de conhecimentos. "A variedade de experiências apresentadas e as soluções encontradas para resolução dos problemas relativos à revitalização de rios mostradas nesse seminário foram muito valiosas", afirmou.
Para ele, a Meta 2010 já alcançou resultados bastante animadores. "A Alemanha está em processo de recuperação de seus rios há mais de 50 anos e vejo que, em relativamente pouco tempo, Minas já avançou bastante. Os trabalhos de mobilização e conscientização que integram o Projeto Estruturador Meta 2010 são fatores fundamentais para seu sucesso", avaliou.
Rio Tamisa - a experiência do rio Tamisa foi apresentada pela representante da Agency of United Kingdon, Rachel Hill. Segundo ela, a agência ambiental de Londres tem a visão de criar para o futuro um lugar melhor para se viver. "Queremos um lugar melhor não apenas para as pessoas, mas também para os animais e a vida selvagem", ressaltou.
O rio Tamisa percorre 5.330 mil quilômetros quadrados em seu leito principal. Cerca de 13 milhões de pessoas vivem na área de captação do rio, sendo 7 milhões somente em Londres. O Tamisa é usado para abastecimento e como meio de transporte para a população. Um de seus maiores problemas é que o rio é sujeito às marés e corre muito lentamente, o que faz com que as águas voltem a seu curso, trazendo também de volta a sujeira.
Segundo Hill, além da construção de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), a Agência de Águas em Londres e o Governo estão tentando restaurar e abrir o rio nos locais onde ele foi canalizado, criando várzeas naturais e criando um sistema de infiltração da água da chuva no solo, fazendo com a água retorne naturalmente ao ciclo hidrológico. Uma nova recomendação também está obrigando os empreendedores a estocarem as águas da chuva por certo período e, somente após tratamento, são devolvidas ao rio. "Serão também recriados 1.200 hectares de habitats naturais", adiantou.
Anacostia - As ações desenvolvidas para a revitalização do rio Anacostia, Localizado na capital americana, Washington, foram apresentadas pelo presidente em exercício da Sociedade do rio Anacostia, James Connolly.
Problemas como a crescente urbanização e a grande concentração de habitantes ao longo do rio são, segundo ele, desafios para a revitalização do Anacostia. De acordo com Connolly, as leis rígidas dos Estados Unidos conseguem ter um controle de fontes pontuais de poluição, como as indústrias e outros empreendimentos, mas o grande problema enfrentado são as fontes difusas de poluição.
Os interceptores existentes não têm capacidade de receber o grande volume de água das chuvas, causando enchentes e trazendo prejuízos para a vida do rio. Outro grande problema apontado é o volume de lixo urbano gerado pela população. "Se conseguirmos tirar o lixo do rio ficará visível para a população que o Anacostia está limpo e, com isso, será mais fácil trabalhar os outros aspectos de tratamento", pontuou.
Outras ações, como atividades educativas, criação de áreas de plantação ao longo das margens do rio e o trabalho de educação ambiental nas escolas e com professores também foram implantadas.
Experiências semelhantes às do rio Tamisa, como a criação de sistemas de infiltração da água da chuva no solo, recarregando o lençol freático e o estoque da água da chuva em reservatórios, são medidas também adotadas em Washington. "Nosso objetivo é limpar a água, recuperar as margens e honrar a nossa herança", concluiu Connolly.
Ascom / Sisema